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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Com boa vontade tudo é possível!!

As lições da Alemanha
Com investimentos, inovação e políticas claras, o país prova que é possível reduzir a dependência do petróleo.


No teto de uma estação de trem em berlim, painéis de quase 2000 metros quadrados absorvem energia solar.


São poucos os dias de sol na Alemanha. No verão, a temperatura média das cidades fica abaixo dos 30 graus. No inverno, as temperaturas são baixas, e o tempo, úmido. Apesar de ter muitos dias nublados, o país é hoje líder em energia solar. Quase metade de toda a energia solar produzida no mundo é feita na Alemanha. A ironia não é obra do acaso nem reflexo das mudanças climáticas. A liderança alemã é resultado de políticas públicas rigorosas para fomentar a produção de energia limpa. Há quase duas décadas, o país promulga leis que promovem o uso de fontes renováveis para a produção de energia. E o resultado é um currículo que soma destaques também na área de energia eólica e em biodiesel — mesmo sem ter tradição em agricultura. Atualmente, a Alemanha é o país com a maior capacidade instalada para produção de energia com novas fontes renováveis (excluem-se dessa conta as hidrelétricas). No ano passado, as fontes alternativas responderam por 6,7% do total de energia primária consumida pelos alemães (veja quadro ao lado) e 14,7% da eletricidade gerada no país. “O consumo de energia na Alemanha é muito alto e cresce ano após ano. Não se imaginava que as energias renováveis cresceriam mais ainda”, disse a EXAME Christine Wörlen, chefe da área de energias renováveis da Agência Alemã de Energia.
Por trás desse desempenho invejável existe um misto de inovação, investimentos privados e uma clara determinação política de mudar a matriz energética do país, tradicionalmente baseada em energia nuclear, petróleo, gás natural e carvão. Em 1991, foi promulgada uma lei para reduzir a dependência da Alemanha de combustíveis fósseis. A norma deu grande impulso para a indústria de energia eólica, mas o boom de energia limpa só veio no ano 2000, após uma revisão das regras e a criação da lei das fontes renováveis de energia, a Erneuenbare Energien Gesetz, conhecida pela sigla EEG. Pela EEG, todo cidadão tem direito a montar uma pequena central de energia de fontes renováveis e as operadoras da rede elétrica do país são obrigadas a comprar o que for produzido, pagando tarifas preestabelecidas, que valem por 20 anos. Os valores variam de acordo com o tipo de energia, sendo mais altos para as fontes que custam mais e que precisam ser mais desenvolvidas. No caso da energia solar fotovoltaica, por exemplo, o valor do quilowatt-hora é 46 centavos de euro, enquanto para a energia eólica gerada em terra, já bem explorada, é 5 centavos. A diferença de preço é repassada para os consumidores, que têm um aumento de cerca de 2,20 euros por mês na conta de luz.
A conta de luz mais alta teve um resultado direto para o país. “A lei deu partida a uma indústria de energia renovável e abriu espaço para novos grupos atuarem no mercado”, diz Stefan Schurig, diretor do departamento de clima e energia do World Future Council, centro de pesquisas ambientais em Hamburgo, na Alemanha. As altas tarifas garantidas para qualquer pessoa que produza energia estimularam a criação de vários parques energéticos, dos mais variados tamanhos. Os produtores vão de grandes empresas a simples moradores que colocam painéis fotovoltaicos sobre os telhados de suas casas, passando por fazendeiros que montam pequenas usinas de produção de gás de resíduos orgânicos. Há cooperativas de unidades fotovoltaicas que faturam mais com o investimento na implantação de painéis do que com dinheiro depositado no banco. Os juros básicos na Alemanha são em média de 4%. O retorno dessas unidades fica acima de 5%.
A nova indústria não faz feio frente aos setores tradicionais do país. Nos últimos dois anos foram criadas 100 000 vagas no setor de energias renováveis, que emprega hoje 250 000 pessoas. Estima-se que esse número suba para 400 000 em 2020, o equivalente à metade do número de trabalhadores da tradicional indústria automotiva alemã. “O mercado de tecnologias para fontes renováveis cresce de 10% a 15% ao ano”, diz Torsten Henzelmann, da consultoria Roland Berger, em Munique. Em 2007, a indústria somou 25 bilhões de euros em produção e operação, e as empresas nacionais despontaram. Criada em 1999, a Q-cells, fabricante de células fotovoltaicas para produzir painéis solares, viu seu faturamento aumentar de 17,3 milhões de euros em 2002 para 860 milhões de euros no ano passado. A empresa ultrapassou a concorrente japonesa Sharp e tornou-se a líder no segmento. Atualmente, quatro das oito maiores empresas de energia eólica do mundo estão na Alemanha, como a Siemens e a Enercon. O crescimento interno refletiu-se no exterior. “A Alemanha detém hoje 30% do mercado mundial de tecnologia para exploração de fontes renováveis”, diz Henzelmann.
Sistema controverso
O modelo adotado pelos alemães já foi copiado em mais de 30 países, mas a política não é unanimidade entre as nações que querem reduzir sua dependência de combustíveis fósseis. Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, usam um sistema diferente, baseado em cotas: o governo determina um percentual de energia que as companhias devem produzir com alternativas limpas e elas escolhem o tipo que vão usar. Para os críticos do modelo alemão, a política americana e inglesa é mais favorável ao livre mercado. O sistema de tarifas não dá liberdade às empresas de energia de definirem seus planos de negócios, já que são obrigadas a comprar a energia que entra na rede, e é extremamente regulado pelo governo, que orienta os investimentos. Já os defensores da experiência alemã argumentam que é uma forma de promover mais diversidade e inovação tecnológica. “No modelo americano, as companhias de eletricidade buscam as fontes de energia mais baratas para suprir suas cotas obrigatórias, geralmente a hidráulica e a eólica”, diz Paul Runci, pesquisador sênior do Laboratório Nacional Pacific Northwest, em Maryland, nos Estados Unidos. “No sistema alemão, os valores mais altos para fontes pouco exploradas dão segurança para o investidor apostar nelas.” Só em energia solar já há mais de 160 instituições fazendo pesquisas tecnológicas na Alemanha.
Mais verde
Com a marca de sexto maior emissor de gases que causam efeito estufa, a Alemanha tentou melhorar seu legado ambiental atuando de forma direta também na promoção de biocombustíveis. Em 2004, o governo isentou os produtores de biodiesel de impostos e introduziu uma série de subsídios para fomentar a indústria. Mesmo sem ter muita tradição agrícola, o país aumentou sua capacidade de produção de biodiesel de 265 000 toneladas no ano 2000 para 4,5 milhões de toneladas no final do ano passado. Do total de combustível usado nos carros alemães, 6,9% são de tipos limpos. O cenário positivo, porém, começou a mudar há dois anos, desde que o governo voltou atrás nos benefícios dados aos produtores. No final de 2006, passaram a ser cobrados impostos sobre o biodiesel para que não se perdesse a arrecadação com combustíveis fósseis. Para compensar as perdas dos produtores, o governo alemão estipulou a obrigação de misturar 5% de biodiesel ao diesel comum, mas a mudança não foi suficiente. Várias refinarias pequenas fecharam.
Ainda com preço mais alto que o diesel, fica clara a necessidade de um programa do governo para a promoção do biodiesel. O mesmo vale para outras fontes renováveis de energia. “As tarifas desses tipos de energia ainda são altas e só vão cair quando ganharem escala de produção”, diz Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). “Essas fontes dependem de uma política pública para ser introduzidas no sistema de energia, que tende a reproduzir o que já existe.” No caso alemão, a definição de tarifas por 20 anos foi a solução encontrada para estimular os investimentos. “É necessário dar segurança ao investidor, com regras claras”, diz Christine Wörlen, da Agência Alemã de Energia.
O modelo alemão


Entre 1990 e 2007, a participação de fontes renováveis na geração de eletricidade no país aumentou de 3,4% para 14,7%. Alguns passos da trajetória verde alemã;


Formulação de uma política pública de estímulo à produção de energia elétrica limpa baseada em tarifas predeterminadas por 20 anos;


Conexão de todo o país à rede elétrica nacional e regulação extensa sobre o acesso à rede;


Criação de uma estrutura que permite a qualquer cidadão montar uma companhia de energia, sem restrição de tamanho;


Conscientização da população sobre a necessidade de substituir os combustíveis fósseis por fontes renováveis;


Comprometimento de diferentes governos a seguir com a política de incentivo a fontes de energia renováveis.


No Brasil, alguns projetos já foram ensaiados. Em 2004, o governo brasileiro criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), cuja meta é instalar 3 300 megawatts de usinas eólicas, pequenas centrais hidrelétricas e unidades de geração com biomassa. Até hoje, só uma fração dessa quantidade foi instalada. De modo menos abrangente, algumas cidades estão promovendo o uso de coletores solares para aquecimento de água. Em São Paulo, entrou em vigor em julho uma lei que obriga novas edificações a usar esses aquecedores — no caso das residenciais, só as que têm quatro banheiros ou mais. Outras 15 cidades adotaram projetos semelhantes. “Esse é o começo. Depois vamos avançar para energia solar fotovoltaica”, diz Carlos Faria, coordenador da iniciativa Cidades Solares, que auxilia governos na elaboração de leis verdes. “Nenhum mercado no mundo avançou na área de energias renováveis sem políticas públicas.”
Fonte Exame - Por Denise Dweck

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